O Tratado de Tordesilhas
Para estabelecer os domínios no Atlântico, foi necessária uma longa batalha diplomática entre Espanha e Portugal.
Pouco depois da volta de Cristóvão Colombo, o papa expediu, em maio de 1493, a Bula Inter Coetera, que reconhecia ao reino de Castela o domínio sobre todas as terras que se encontrassem a oeste de um meridiano localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde.
Portugal, sentindo-se prejudicado, não aceitou a bula papal e exigiu uma negociação direta. O resultado foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, em que os reinos ibéricos estabeleceram uma divisão do mundo.
Assinatura do Tratado de Tordesilhas
(in: Manuel de Sousa, Reis e Rainhas de Portugal, SporPress, Mem Martins, 2000, pp. 81)
Segundo o tratado, terras e mares encontrados ou por encontrar (desde que não pertencentes a nenhum rei cristão) seriam divididos entre Espanha e Portugal. O meridiano que passa a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde foi tomado como linha divisória. As terras localizadas a leste pertenciam a Portugal. As restantes seriam da Espanha.
Linha do Tratado. A tracejado a proposta do Papa Alexandre VI
Para os portugueses, o tratado era altamente positivo, pois lhes assegurava a posse do litoral atlântico da África, região que já vinham explorando. A Espanha acabaria impondo seu domínio a grande parte do continente americano e sobre os povos que o habitavam. Com os metais preciosos encontrados no novo continente, tornar-se-ia a nação mais rica da Europa. Por isso na história espanhola o século XVI ficou conhecido como "o século de ouro".
Os Aspectos Técnicos da Aplicação do Tratado
Claro que era muito difícil estabelecer a correta aplicação dos limites geográficos determinados pelo tratado. Após alusão à linha divisória colocada 370 léguas a ocidente do Cabo Verde, os redatores do texto, assentaram o seguinte:
- que a tal linha divisória fosse determinada no prazo de dez meses, por uma comissão de marinheiros, astrônomos e pilotos de Castela e Portugal, portanto a organização de uma expedição comum;
- que Portugal assegurasse a Castela, o direito de passagem no espaço que lhe pertencia;
- que tendo em vista a segunda viagem de Colombo, consentiam a Castela as terras descobertas até 20 de Junho, com a condição de se situarem para lá de 250 léguas a ocidente de Cabo Verde; depois desta data, apenas vigoraria o limite das 370 léguas;
- que nem o monarca de Castela nem de Portugal recorressem ao poder papal para alterar o acordo, mas sim cumprirem o tratado nos termos em que foi assinado.
Mesmo assim, as dificuldades da determinação prática de longitudes continuavam a ser muitas, mesmo depois de atingidas as Molucas, durante anos se admitiu entre Castela e Portugal o hemisfério em que se encontravam. Esta questão acabou por ficar concluída com o Tratado de Saragoça em 1529.
Pode-se dizer que depois do Tratado de Tordesilhas, no espaço de 40 anos desapareceram séculos de inconstância nos conhecimentos geográficos, os ensinamentos teóricos da nossa geografia, difundiram-se pelo Universo e os povos entraram em contato entre si.
A Europa e as navegações
Com as Grandes Navegações, novos continentes passaram a ser conhecidos pelos europeus, assim como o oceano Atlântico, que teve aos poucos seus segredos desbravados.
O poder dos reis, associado à burguesia que financiava as navegações, tornou-se ainda mais forte. As riquezas obtidas com a exploração das novas terras foram usadas na organização de exércitos para subjugar os nobres resistentes ao processo de centralização e também foram empregadas na montagem de um sistema administrativo que garantia aos monarcas amplos poderes.
A burguesia enriqueceu com a expansão do comércio para outras partes do mundo. A primeira viagem dos portugueses às Índias deu um lucro espantoso: 6.000%! Ou seja, para cada cem moedas que gastaram, receberam 6.000 a mais.
Com as navegações oceânicas, ocorreram diversas mudanças na Europa:
- deslocamento do eixo da atividade comercial do Mediterrâneo para o Atlântico;
- popularização do consumo de especiarias;
- mudanças de hábitos alimentares, com a inclusão de produtos como a batata, o milho, a mandioca, o tomate e o cacau, levados da América para o continente europeu.
- mudança na concepção do mundo (fim da crença de que a Terra era plana, de que existiam sereias,. Monstros marinhos, etc. nos oceanos);
- ampliação do conhecimento da astronomia (descobrem-se as constelações do hemisfério Sul e abre-se o caminho para a teoria heliocêntrica, ou seja, a de que a Terra gira em torno do Sol);
- propagação da cultura europeia para os outros continentes (inclusive do cristianismo);
- povoamento e exploração das terras encontradas;
- grande concentração de metais preciosos na Europa ocidental;
- submissão das populações dos “novos continentes” à escravidão e a trabalhos compulsórios.